O racismo de Phil Anselmo e até onde separar a arte do artista

henrique salmaso
3 min readApr 5, 2019

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Phil Anselmo foi o vocalista do Pantera, uma das maiores, melhores e mais influentes bandas da história do metal. Banda essa que fez eu me apaixonar pelo estilo e que sempre carreguei com muito carinho.

Em janeiro de 2016, Phil Anselmo fazia um show em homenagem a Dimebag Darrell, ex-guitarrista do Pantera, que foi assassinado em cima do palco em 2004. Tudo ocorria bem, vários convidados legais, público engajado, clássicos tocando… até que o vocalista resolveu fazer (respira) uma saudação nazista. Sim, Phil Anselmo levantou o braço e gritou “WHITE POWER!” em alto e bom som.

Depois de toda a polêmica, o vocalista se desculpou e justificou dizendo que essa era uma piada interna, pois eles estavam bebendo um vinho branco no camarim. Faz todo sentido. Vinho branco, white power… quem nunca tomou um vinho branco e saiu fazendo saudação nazista por aí? Essa desculpa se tornou ainda mais inaceitável quando, vasculhando o histórico de Phil Anselmo, percebi que ele é reincidente nesse tipo de coisa. Em meados dos anos 90, ele disse que não gosta de rap pois “são negros que não gostam da cultura branca”; e completou dizendo que “os brancos precisam ter mais orgulho de ser quem são”. Sim, orgulho de terem matado, torturado e escravizado trocentos negros no Holocausto, na chegada às Américas e em diversos episódios da história.

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Bom, mas seria o Pantera uma banda racista? Eu realmente não sei, mas existem indícios. O principal deles é que a guitarra de Dimebag Darrell ostentava a bandeira dos Confederados. Esse símbolo representou os Estados do sul dos EUA na Guerra Civil (ou Guerra de Secessão), que lutavam ferrenhamente a favor da escravidão e contra sua abolição. Para alguns, ela atualmente representa apenas a tradição e o orgulho da região.

Porém, ela ainda tem uma conotação racista e é bem polêmica na América do Norte. Sabe quem também ostentava essa bandeira? Dylann Roof, um neonazista supremacista branco que fez um massacre de cunho racista à Igreja Episcopal Metodista Africana Emanuel, matando nove pessoas em 2015.

Em “13 Steps To Nowhere”, canção do grande álbum The Great Southern Trendkill, há um trecho que não faz o menor sentido, mas é um tanto quanto estranho.

A backwards swastika, the black skin riddled in lead
A nazi gangster jew, it beats a dog thats dead

(Uma suástica para trás, pele negra apodrecida com chumbo
Um gângster nazista judeu, bate em cachorro morto)

Isso não quer dizer muita coisa, uma vez que a arte também tem a intenção de chocar e não há uma apologia clara a algo. Phil Anselmo, sim, é um racista explícito. Seu “white power” não deixa dúvidas. Porém, apesar de flertar com esse tipo de coisa, o Pantera não era abertamente uma banda racista/neonazista. A discussão que quero chegar é: eu deveria abandonar a banda? E se, nas faixas que falam de motivação e superar os obstáculos, ele estiver falando em exterminar negros? E as músicas fofas de amor, eu também não posso mais ouvir? Eu deveria vender minhas camisas e CDs do grupo?

Porque aqui não estamos lidando só com um reaça idiota como o Lobão, que apenas fala “bolsonarices” por aí. Nesse caso é tranquilo separar a pessoa da arte, pois, até na minha família (e na sua também), tem vários como ele. Estamos falando de um rapaz que fez apologia ao episódio mais nojento da história da humanidade; mas também de um rapaz que me fez apaixonar por metal e influenciou diversas outras bandas que amo muito.

E é nesse conflito interno que me vejo diariamente.

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