Sobre o fim do Sepultura

henrique salmaso
2 min readDec 9, 2023

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Sepultura tocando no Mineirão, em 2023 | Agência i7

O fato de os dois mais geniais grupos musicais da história do Brasil serem de Minas Gerais não deveria ser surpreendente. Minas é terra de Guimarães Rosa, Rei Pelé, Conceição Evaristo, Skank, Clara Nunes, Antônio Francisco Lisboa, o Aleijado, dentre outros mais. Também não deveria espantar que tais bandas tivessem se criado na mesma cidade, Belo Horizonte.

Mas a verdade é que Sepultura e Clube da Esquina deram seus primeiros passos exatamente na mesma rua. Mais precisamente, em quatro casas de diferença uma da outra. Épocas diferentes, claro, idades diferentes e estilos diferentes, mas na mesmíssima Rua Divinópolis, no boêmio bairro de Santa Tereza, região leste da capital.

Por que não existe uma placa, com letras garrafais, alertando aos desavisados sobre o assunto?

Bebendo da fonte desta impossível coincidência, os meninos do Sepultura absorveram daquele pedaço de chão toda a boniteza que fez com que Bituca e seus amigos conquistassem o mundo. Em rigorosamente todos os cantos deste globo, há pelo menos uma viva alma que é fã do grupo.

Insubmisso, o Sepultura foi na contramão de várias outras bandas que fizeram sucesso naquele período. Foram quatro décadas sendo relevante, com lançamentos potentes e sem viver de requentar os seus álbuns clássicos. Sempre mantendo a essência radicalmente brasileira de seu som, o grupo fez questão, durante todo esse período, de se explorar terras desconhecidas e encontrar diferentes “eus” no fundo de si.

A prova cristalina disso tudo é que esta história terminará com aquele que é, no mínimo, o melhor álbum do Sepultura no século. Quadra, de 2020, nos ensina que não é preciso encerrar as atividades apenas quando as coisas não vão bem. Quando se enfrenta momentos intranquilos, quando não há sintonia ou inspiração. A banda teve fome de existir desde aqueles tempos remotos de Rua Divinópolis, até o último dia de sua existência.

O comunicado oficial do grupo diz que “O Sepultura vai parar. Vai morrer. Uma morte consciente e planejada”. Alguns fãs se entristeceram com a frieza da frase, alegando que o Sepultura nunca vai morrer, pois sua história se estenderá ao infinito, ou coisas análogas.

Porém, três dias antes de defuntar, ao tomar posse na Academia Brasileira de Letras, o eterno João Guimarães Rosa disse: “a gente morre é pra provar que viveu”.

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